Em Londrina, a luz natural é abundante. É nosso dever saber manipulá-la, para criar ambientes iluminados e sensações agradáveis, mas ao mesmo tempo evitar o excesso de luz e o aquecimento. Assim, a orientação (a trajetória do sol) é sempre um fator decisivo na organização do programa de necessidades. Além disto, obviamente que o arquiteto, como artista, transfere para suas criações, seus conceitos e impressões de um mundo ideal, que se convertem em sua linguagem, como tem sido a tônica da arquitetura contemporânea, na qual não existe mais um estilo predominante, mas linguagens dispersas pertencentes a cada arquiteto. As linguagens que mais me atraem e, portanto, me influenciam, são ainda aquelas relacionadas à tradição e às formas consagradas da arquitetura. No entanto, a arquitetura possui um propósito concreto, que é atender as necessidades de um sujeito real, dotado de personalidade própria e situado num espaço e tempo próprios. Logo, esta linguagem deve servir as mais variadas necessidades nos mais diversos contextos, porém objetivos.
Neste projeto, as exigências dos clientes foram estritamente funcionais. Eles restringiram-se a fornecer um programa de necessidades, o que resultou numa total liberdade criativa. O contexto isolado, um condomínio fechado, também acentuava esta liberdade. Desta forma, os espaços foram dispostos a fim de aproveitar os benefícios da iluminação natural, minimizando o desconforto térmico no interior e proporcionando ambientes com qualidades sensoriais. As duas suítes principais, ficaram direcionadas para o leste (na verdade, ligeiramente para o nordeste), a fim de receberem os raios de sol matinais e proverem vistas para o Vale, que existem além da divisa do condomínio. O living, área de convivência com 5,20 m de altura, ficou situado na face leste, o que permitiu a criação de uma ampla abertura, de 7,50 x 3,15 m, que garante luz e ventilação naturais abundantes e vista para o exterior. Além disto, todos os ambientes que compõem as áreas sociais, living, cozinha e espaço gourmet (churrasqueira) são integrados para proporcionar uma sensação de total fluidez espacial e visual e principalmente liberdade. As áreas privadas, as três suítes e o escritório, foram dispostos no pavimento superior, para assegurar a privacidade dos moradores e demarcar o nível hierárquico dos espaços.
Apesar da liberdade criativa irrestrita, a edificação apresenta um aspecto sóbrio, com formas
simples. Um volume rígido, projetado para estar em balanço
ou sem apoios aparentes,
desprende-se do todo para servir de abrigo para os carros. Um pórtico, de 6,35m de altura,
marca o acesso principal à edificação e atribui-lhe o caráter monumental desejado. E, um
amplo plano de vidro na fachada leste, na esquina, atenua a rigidez da edificação e indica a
altura dupla do espaço interno. Esta estratégia, um jogo de escala e de proporções e de
recortes, dá um maior dinamismo e complexidade à edificação, recurso adotado em detrimento
do uso de formas irregulares e excesso de materiais e texturas. Esta escolha pela simplicidade
formal tem por objetivo contrapor-se aos devaneios do nosso tempo, refiro-me ao culto da
imagem, ao hedonismo exacerbado e ao consumismo irracional, e ao mesmo tempo espelhar a
essência da personalidade dos que ali habitam.